17 Mar

Vamos para o dia 4! 

Hora de deixar Namche pra trás,  com um belo nascer de dia. 

Saimos super cedo, antes mesmo do sol ultrapassar as montanhas, queriamos chegar cedo no próximo destino: Tengboche.

E nesse dia entendemos porque não havia movimento essa hora. A verdade é que quanto mais alto e mais cedo, mais frio. Nesse dia lembro de não sentir os dedos dos pés, mesmo usando minha super botinha de trekking, e também de sentir amortecido a região ao redor da boca. É bem engraçado o que o frio pode fazer com o corpo da gente! Por sorte, nos movimentando esquentamos o corpo e o sol foi subindo e nos aquecendo. 

O caminho era realmente lindo, vendo as mesmas montanhas do dia anterior e recebendo as boas energias de cada estupa que passávamos. Impossível não sentir toda a espiritualidade que cerca esse vale. 

Vimos os nossos primeiros Yaks, tipo uma vaquinha adaptada a altitude, cheia de pelos e com muita força.  

Foi um dia que exigiu bastante de nós.  Tinha bastante subida, então era vez de mais uma vez negociar com a cabeça,  e dizer que tudo daria certo. 

E deu. Chegamos em Tengboche no meio da tarde, um passinho de cada vez.

Nos deparamos com um Monastério maravilhoso, que não tem como imaginar como foi construído naquele lugar! O povo de lá é realmente o máximo!  De força e coração.  

Tudo nesse trekking gira em torno de caminhar e comer, de resto o que vem é lucro. Assim que chegamos em Tengboche, nos instalamos no hotel, tomamos um belo banho, bem quentinho e depois fomos em uma padaria bem legal, tomar um chá e comer um bolinho. 

De barriga cheia e pernas descansadas fomos visitar o Monastério, e pra nossa sorte estava acontecendo uma cerimônia.  Pudemos sentar e observar tudo que acontecia. 

Foi lindo, assim como nos filmes, os monges usam capas bordos, são carequinhas e bastante simpáticos. 

A cerimônia foi uma coisa bem diferente de tudo que estamos acostumados a ver. Eles leem em forma de música o livro sagrado do budismo: Tripitaka, tocam uma espécie de pratos e tem um sino e um instrumento de sopro que se encaixam perfeitamente na leitura das escrituras. 

Outra coisa interessante, que descobrimos conversando com um guia que também estava na cerimônia,  foi que os monges tendem a oferecer um de seus filhos para seguir a vida no monastério, e esses filhos são os responsáveis por servir um cházinho quente durante a cerimônia. E te digo, que frio estava ali, nada de climatizador ou lareira ou qualquer coisa que faça calor. As capas dos monges devem ser beeem quentinhas, pude perceber que varios deles usavam uma manga cavada por baixo. 

Era como 6 da tarde quando voltamos pro hotel, que felizmente tinha uma lareira acesa. Foi uma bela noite de descanso. 

Acordamos para o dia 5 e tinhamos 2 opções de destino: Pangboche ou Dingboche. Optamos pela primeira. O trajeto era menor e assim poderiamos dar mais tempo para o nosso corpo se acostumar com tantas mudanças. 

De tudo que vivemos nesses dias os amanheceres merecem destaque: a luz do dia é incrível. A maneira como é possível ver as montanhas torna o passeio mágico. 

Antes de iniciar a caminhada fomos fazer umas fotos, mais uma vez a vista era de tirar o fôlego. 

Iniciamos então a caminhada do dia se perdendo do caminho dos turistas. No entanto acabamos parando em frente ao lado B do vale do Kumbu, em um lixão a céu aberto. Sério gente, bem triste ver a quantidade de sujeira colocada em um canto de uma região tão linda. Quando falam sobre o monte Everest estar cheio de lixo, isso é o que talvez as pessoas podem ver, mas quantos lixões iguais ao que a gente viu existem pelo vale? 

Seguimos... 

Passamos por novas paisagens, agora cada vez mais escassas de vegetação, afinal, quanto mais pra cima, menos oxigênio e mais difícil fica para as plantinhas também.  

Seve levou uma camiseta do Brasil para dar de presente para alguma pessoas especial que talvez enconstrássemos no caminho e carregou orgulhoso no lado de fora da mochila. Normalmente as pessoas ficavam bem felizes em saber que éramos brasileiros. 

Esse dia nos mostrou paisagens incríveis. Coisas que só vemos em regiões de montanhas. Rios leitosos, penhascos, montanhas nevadas. 

Mas conforme mais a gente subia, mais dificil ia ficando de caminhar, mais cansados nos sentíamos, e consequentemente menos registrávamos o caminho. 

Até que chegamos em Pangboche. E essa vilinha ficou marcada por causa de um menininho lindo e bastante especial.

Chegamos para o almoço e ficamos no saguão do lodge até que esse gurizinho apareceu. Ele alegrou nosso dia. 

Sem entender nenhuma palavra que a gente falava, ficamos muito amigos. Trocamos carinhos e nos divertimos muito. 

Ele divididiu comigo um potinho de romã que a vó trouxe para ele comer, e eu dividi um prato de massa que pedimos no almoço.  

Toda vez que pensamos nele, pensamos em uma criança educada e delicada. Cheia de carinho, com as bochechinhas queimadas do sol e do frio. 

Quando oferecemos para ele uma escovinha, sem entender nada, ele negou. Mas depois que pedimos ajuda para um guia que estava no lodge, ele explicou que seria um presente, e pegou a escovinha bem faceiro. 

Outra curiosidade do pequeno: estavamos em uma vila bem gelada, mas ele simplesmente do lado de fora da casa, tirou as calças, ficou com o pintinho de fora, e foi brincar em uma barraca que estava sendo montada no lado da casa. Parecia que o frio não importava. E mesmo peladinho ele me deu um sorriso e mandou um beijo que aqueceu meu coração. 

Nesse lodge a fonte de calor vinha de uma lareira, no centro da sala principal, aquecida por cocô de Yak, isso porque ali, já não tinha mais árvores para ajudar no fogo. 

Foto de coco de yak

Nesse dia, a altitude começou a mostrar seus efeitos em nossos corpos. Já estavamos a quase 4000 msnm, e um dos sintomas foi de bastante dor de barriga, e consequente diarréia. Nada que nos impedisse de seguir vivendo normalmente, mas momento de prestar mais atenção no nosso corpo. 




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