22 Nov
22Nov

A Travessia do Uruguai que vamos contar aqui, é um trajeto que fizemos pela costa Uruguaia em novembro de 2022. 

Um trajeto de 106km que fizemos em 5 dias. 

Iniciamos saindo de Pelotas - RS, em direção ao Chuí-RS, uma viagem tranquila pelos pampas do nosso Rio Grande do Sul. Passamos pelo Taim, vimos seus pássaros, capivaras, e até jacarés. Momento de contemplação.

Chegamos no Chui, fizemos algumas comprinhas nos free shops, de coisas importantes para o nosso trekking, como por exemplo um belo exemplar de queijo e alguns alfajores. 

Ainda precisávamos encontrar onde dormir e deixar o nosso carro para no outro dia pegar um ônibus em direção ao vilarejo de Cabo Polônio.

Check! Tudo resolvido. Passagens compradas do Chuí ao Cabo Polônio, e lugarzinho seguro para deixar nosso carro no Chuí. 

Fomos até a reserva natural de Cabo Polônio, e ao chegar lá, o invés de subir em uma jardineira (aqueles típicos caminhões que eles usam para levar as pessoas pelas dunas até a praia), fomos a pé. 

7 km do pórtico do parque até o Hostel que ficamos na beira da praia. E no meio do caminho uma chuvarada, daquelas que mesmo colocando uma capa de chuva linda de bolinhas enxarca a gente. 

Chegamos no hostel e fomos muito bem tratados, foguinho na lareira para aquecer e secar nossas roupas, um vinho e um queijo para acalmar o coração e manter nossa tradição quando em Cabo Polônio. 

Seria nossa primeira vez em um hostel dividindo quarto, mas vou confessar que ficamos muito felizes de não ter que dividi-lo com ninguém. Com as coisas todas molhadas e um espaço pequeno seria impossível nos manter organizados. Fora isso a noite de sono foi um pouco agitada: primeiro com um vendaval, e depois quando sossegou, uma mosquitama sem tamanho.

Planejamos um dia para poder aproveitar a praia, e ficar pelo vilarejo antes de iniciar nossa caminhada. Foi realmente um dia de descanço, soninho depois do almoço, chuva, general e varetas. 

Fomos pra cama cedo, afinal no outro dia iniciariamos nosso trekking. E para a nossa surpresa, antes de ir pro nosso quarto, olhamos para a praia e vimos um brilho no mar. Como já haviamos visto algo semelhante antes, fomo rápido falar com o pessoal do hostel se era realmente o que estávamos pensando.

SIM! Noctilucas, que segundo um de nossos cantores favoritos - Jorge Drexler - ´´ un punto en el mar obscuro, donde la luz se acuruca´´ 

Noctilucas são organismos unicelulares fosforescentes, que com o movimento das ondas brilham, e tornam a noite mágica. Em nossa primeira vez no Polônio vimos esse fenômeno, e dessa vez fomos novamente surpreendidos! Foi incrível. Fomos até elas, atravessamos um pedacinho de ´´pântano´´  que tinha na frente do nosso hostel, e chegamos no mar. A areia molhada, conforme a gente passava a mão, brilhava, era lindo! Mágico!

Elas aparecem com o movimento, vem bem na pontinha da onda, e a espuma que fica na praia, fica brilhando também.  Tocávamos a água, e balançávamos as mãos, que também brilhavam. 

Memorável. A gente fica bobos, igual crianças. 

Além disso, no Polônio, tem um farol que a cada 12 segundos faz a volta completa, iluminando toda a vila, que não dispõe de energia elétrica, o que deixa tudo mais charmoso. 

´´ Lo que importa en verdad son los 12 segundos de oscuridad´´ Jorge Drexler.


Dia de iniciar nossa caminhada.

15 de novembro de 2022. 

Saímos as 7h da manhã em direção a Valizas, cidade vizinha de Cabo Polônio. 

Esse trajeto foi bem desértico, inóspito. Ouso dizer que mais que o Cassino (maior praia em extensão do mundo). Ok, vimos algumas vacas por ali, mas no Uruguai, onde não tem vacas?

Foi uma caminhada dura, de areias fofas e bastante vento. Encontramos um lobinho marinho dormindo, apesar de ter achado que estava morto. Levamos um baita susto quando estávamos pertinho dele, e ele gritou pra nós e saiu correndo para o mar.


A parte mais difícil de caminhar neste dia foi sobre as dunas, próximo a Valizas, que por si só já são difíceis, e pra completar havia muito vento. 

O vento era bem forte, que desde a duna mais alta se via ele levar adiante a areia, e redesenhar aquela região. Parecia na verdade uma cascata de areia. 


Até que chegamos no beira do rio que divide Polônio de Valizas, e quem disse que tinha um barqueiro?

Ninguém. As pessoas do outro lado mal nos olhavam. Parecia que ignoravam nossa existência.  Ficamos ali parados esperando por alguém por mais de 40 min., até que um senhor (um pouco rabugento) resolveu nos ajudar. Ele deixou claro que não era temporada, e que estava fazendo um favor, por 300 pesos uruguaios. 

(Casa abandonada que encontramos entre Valizas e Aguas Dulces)

Depois de atravessar o rio, caminhamos por mais 2 horas até chegar no nosso primeiro destinho: Aguas Dulces. 

Seve já havia reservado uma casinha para passarmos a noite. 

Iniciamos nosso segundo dia de caminhada as 7h40 da manhã (mal sabíamos nós que isso seria um problema, não tinha como imaginar o solaço que iria fazer). 

Bom ritmo de caminhada, 4km/h, eram apenas 16 km pela frente, mas foram longos, nenhuma sombrinha sequer. 

Nessa região encontra-se os restos do Navio Arinos, que naufragou em 1875, vindo do Rio de Janeiro em direção a Montevideo, com um carregamento de moedas de ouro. 

Pela areia, mesmo em regiões onde não tem muito acesso, acabamos encontrando bastante lixo, inclusive manchas de óleo.


Em La Esmeralda precisávamos acampar, não tinhamos reservado nenhum hostel, então no fim da caminhada ainda tínhamos essa missão.

Saímos da praia em direção ao vilarejo e já na primeira sombra de árvore da avenida principal, ao lado de casas, em um terreno vazio, montamos nossa barraquinha. Chegamos super cansados, normalmente a combinação de sol e calor acabam com a Deh. Ela ficou arrumando o almoço, enquanto Seve foi até a vendinha mais próxima buscar água. O único problema, é que a vendinha mais próxima não era nada próxima, segundo ele, parecia distante uns 5km. 


Depois de um delicioso almoço de miojo, queijo e salame, passamos a tarde por ali: lendo, jogando general e conversando sobre a gente. E isso que é a melhor parte dessas caminhadas, a gente desapega do mundo (físico e virtual) e vive intensamente cada momento, de maneira mais profunda e verdadeira, não existem outros compromissos a não ser estar desfrutando daqueles momentos. 

Vimos o tempo passar, e assim que escureceu nos arrumar e fomos dormir cedo. No outro dia decidimos que sairíamos junto com os primeiros raios de sol para tornar a caminhada mais confortável. 


6h da manhã já estávamos na praia, e no mapa marcava 20km, foi necessário preparar a cabeça para encarar esse trajeto todo. 

A areia era super fofa, mas mesmo assim conseguimos manter nosso ritmo de 4km/h. No entanto chegou um momento que ao caminhar, afundávamos meio pé na areia. Decidimos então, caminhar nas dunas, onde tinha alguma vegetação, porque era nessa região, sobre a vegetação, que conseguimos caminhar sem afundar.  


Esse pior trecho, acreditamos que durou uns 3 km, já era possível enxergar o farol da praia de La Viuda, de onde estávamos. 

Alegria foi quando passamos pelo farol e iniciamos a caminhar pela praia de La Viuda, finalmente uma areia durinha no dia. 

Mais uns 2 km para chegar na vila de Punta del Diablo. 

Estavávamos sedentos, imaginando qual sabor de suco iriamos escolher. Nesse dia fez bastante calor, inclusive a Deh se animou a dar um mergulho nas águas geladas do Uruguai. O banho de mar durou até que começasse a doer as canelas, mais ou menos 2 minutos. 

 Iniciamos a procura por um lugar para passar a noite, Seve tinha lembrança de uma pousada na praia dos pescadores, então fomos até lá procurar, e pronto: chegamos no paraíso. 


Suco de manga, empanadas e um belo banho de mar. Esse foi o nosso troféu pelo tanto que caminhamos naquele dia. Depois foi só ficar ai na sacadinha aproveitando a paisagem e descansando. 

Vale dizer ainda que nessa pousada tinha uma piscina climatizada, que obviamente, nós usamos.  Foi um momento de super luxo que a baixa temporada nos proporcionou, porque fora dela, o valor desse lugar, não caberia no nosso orçamento. 

Deu tempo ainda de passear pela vilinha, e fazer compras no mercado para a janta: um belo guizadinho com batatas e de sobremesa morcilla doce. Receita de alegria e sucesso. 

Amanheceu em Punta del Diablo as 4h30, e nós já estávamos acordados. Banho, café da manhã e as 5h30 já estávamos na praia caminhando rumo a La Coronilla.

Pra esse dia ouve uma combinação perfeita para quem caminha na beira da praia: areia durinha e dia nublado. 

A região que percorremos nesse dia faz parte do Parque Santa Teresa, cheia de enseadas e cerros com um mar limpinho, transparente. 

Foi um dia de caminhada contemplativa, a facilidade do trajeto ajuda a gente observar mais a natureza, enquanto a dificuldade permite que a gente olhe mais pra dentro de si e se entenda melhor. 

Fizemos 20km em 5h30 nesse dia, e chegamos no nosso destino impecáveis. Super dispostos. 

A casinha que ficamos na praia de La Coronilla não era muito próxima da praia, nem do mercado, nem de lugar nenhum. Ela ficava no meio do caminho entre a Ruta e a praia. O mercado ficava a 1.7km dali e precisávamos ir para poder comprar coisas para comer. Esse trajeto sim foi cansativo, o corpo tinha achado que já podia descansar e teve que ir de novo!

Mas valeu a pena, comemos como uruguaios: uma Hamburguesa de Mila e um flan de côco para o almoço, e para a janta uma bela massinha caseira com molho de tomate. Quem disse que se come mal em trekkings?

Patiu último dia! Uhuuuulll!

Dia de negociar bastante com a cabeça, ainda mais porque esse será o trajeto mais longo dos últimos 5 dias: 25 km. 

Acordamos cedinho, comemos uma bela torta de espinafre e iniciamos. 

Ponto auge do nosso dia foi passar por uma ponte pênsil sobre o rio Andreoni, logo no início do dia.

Dali pra frente foram 23 km caminhando em areia durinha, contra o vento. Delícia. 

Mantivemos o nosso ritmo de toda a caminhada, e em alguns momentos inclusive aceleramos o ritmo. Voando. 

Por volta do meio dia chegamos na praia de Barra del Chuy. Voltamos a ver pessoas. Fomos correndo para a parada de ônibus para poder pegar o último onibus do dia até o Chuy. Sim, fazer trekkings sozinhos requer planejamento!

Notas Importantes:

Fizemos esse trekking por conta própria, mas existe uma empresa que faz esse trajeto. 

É bem tranquilo de organizar as hospedagens pelas cidades que passamos, o que torna o treeking mais leve. 

Não é necessário levar comida em estoque, você passa por vários vilarejos, o que facilita a compra de alimentação. Dependendo da localidade você pode encontrar até restaurantes. 




Se você tiver interesse em saber mais a respeito entre em contato com a gente, podemos planificar tudo para você!








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